domingo, 8 de dezembro de 2013

Nelson Mandela: 15 lições de sabedoria e liderança


1 - Coragem não é ausência de medo

Nenhum de nós nasce corajoso, diz Mandela. Tudo está na maneira como reagimos a diferentes situações.

Embora possa surpreender as pessoas que o conhecem apenas como um ícone, Stengel diz que Mandela contou ter tido medo diversas vezes: durante o julgamento de Rivonia, que o sentenciou à prisão perpétua, quando os carcereiros na Ilha Robben ameaçaram espancá-lo, quando era um fugitivo conhecido na imprensa como "Pimpinela Negro", quando secretamente começou a negociar com o governo. Coragem não é ausência de medo, ele dizia. É aprender a superá-lo. Finja que você é corajoso e você se torna corajoso.
2 - Seja ponderado
No meio de situações turbulentas, Mandela é calmo e procura a calma nos outros. Um homem que foi seu companheiro de prisão durante os quase 30 anos em que ele esteve preso diz que só o viu bravo duas vezes - e ambas envolviam carcereiros insultando sua mulher.

Pensamos em temperamento como algo com o qual nascemos. Mas, no caso de Mandela, foi algo formado. Quando jovem, ele era cabeça quente e facilmente incitável à raiva. O homem que saiu da prisão era o oposto disso - quase impossível exaspera-lo. Ele esperava antes de tomar decisões. "Não se apresse", ele dizia, "pense, analise, então aja".

3 - Lidere na frente

Mandela liderou a Liga Jovem do CNA, o Congresso Nacional Africano, coordenou a Campanha do Desafio, em 1952, comandou a decisão de abraçar a luta armada e desafiou o governo a enforcá-lo no Julgamento de Rivonia, em 1963-1964, que o condenou à prisão perpétua. Na prisão, na década de 1980, foi dele a iniciativa de negociar com o governo branco.

"É absolutamente necessário, às vezes, o líder agir independentemente, sem consultar ninguém, e apresentar o que fez à organização", ele diz. O que significa também ser responsável e assumir as consequências. Sua concepção é a de que líderes devem não apenas liderar, devem ser visto liderando.

4 - Lidere na retaguarda

Mandela sabia que não há nada que faça outra pessoa gostar mais de você do que lhe pedir sua ajuda - quando você reconhece a opinião dos outros, aumenta a lealdade deles a você. Sabia que não podia estar sempre na frente e que seu objetivo poderia morrer, a menos que permitisse que outros liderassem.

Certa vez, usou uma parábola para explicar sua ideia de liderança: quando você está manejando um rebanho e quer que ele se mova para determinada direção, fica atrás com uma vara e deixa alguns dos animais mais inteligentes irem na frente, movendo-se na direção que você quer que eles se movam. O resto do rebanho segue os mais enérgicos que estão na frente, mas é você quem está realmente guiando lá de trás. É assim que um líder deve fazer o seu trabalho.

5 - Represente o papel

Quando Mandela era menino, seu pai cortou a própria calça de montaria e fez uma calça para que o filho tivesse o que vestir no primeito dia de aula. Ele estava determinado a fazer com que seu menino não parecesse um "nativo" incivilizado. Mandela aprendeu a lição. Ele sabia que, às vezes, a melhor forma de ajudar os outros a ver seu caráter é por meio da maneira como você se apresenta. As aparências importam e temos somente uma chance de causar a primeira impressão.

Assim como fingir que se é corajoso pode se tornar coragem real, podemos sentir que nos vestimos como a pessoa que queremos nos deixa mais próximos de nos tornarmos aquela pessoa.

E Mandela estava preocupado com as aparências em uma escala bem maior do que somente que tipo de terno estava vestindo. Ele conhecia o poder da imagem, muito antes da internet e das notícias 24 horas na TV a cabo. "As aparências constituem a realidade", ele disse certa vez.

Em cada estágio da sua vida, Mandela decidiu quem ele queria ser e criou a aparência - e então a realidade - daquela pessoa. Tornou-se quem ele queria ser.

6 - Tenha um princípio essencial - todo o resto é tática

Nelson Mandela é um homem de princípios - exatamente um: direitos iguais para todos, independentemente de raça, classe ou gênero. Quase todo o resto é tática. Pragmatista, ele estava disposto a chegar a um acordo, mudar, adaptar e refinar sua estratégia, desde que isso levasse à derrocada do apartheid e a conquista de uma democracia não racial, com "uma pessoa, um voto". Uma vez que tivesse atingido seu grande objetivo de trazer a democracia constitucional para a África do Sul, abraçaria seu corolário: conseguir a harmonia racial. Tudo o mais era subordinado a esses objetivos sobrepostos. Quando as condições mudam, você deve mudar sua estratégia e sua mente. Não é indecisão, é pragmatismo.

7 - Veja o que há de bom nos outros

É extraordinário que um homem que foi maltratado a maior parte da sua vida possa ver tanto o que há de bom nos outros. Mandela começa com a suposição de que você está lidando com ele de boa fé. Acredita nisso, assim como fingir ser corajoso pode levar a atos de coragem real -, julgando que o que há de bom nas outras pessoas melhora as chances de que revelarão o melhor de si. Certa vez, Stengel perguntou-lhe sobre John Vorster, o presidente da África do Sul, simpatizante do nazismo, que endureceu o apartheid e se arrependeu do fato de Mandela e seus companheiros não terem sido executados. "Ele era um sujeito bem decente", Mandela disse, com total sinceridade. "Em primeiro lugar, era muito educado". Não é que ele não veja o lado sombrio de alguém como John Vorster; é que ele não está disposto a ver apenas isso. Ele sabe que ninguém é puramente bom ou puramente mal.

8 - Conheça seu inimigo

Lutador amador de boxe, Mandela aprendeu com seu treinador, Skipper Molotsi, a importância de conhecer seu adversário e compreendeu que precisava fazer isso na arena política também. Quando estava na prisão, começou a estudar livros de gramática africâner e era caçoado pelos seus companheiros por aprender a língua do opressor, dos brancos. Stengel perguntou a Mandela que razões ele tinha para isso, e ele respondeu: "Bem, é óbvio, porque, como uma figura pública, vocês quer conhecer as duas línguas principais do país, e o africâner é uma língua importante, falada pela maioria da população branca do país e pela maioria das pessoas de cor, e é uma desvantagem não conhecê-la. Quando você fala africâner, entende, vai direto ao coração deles". Para Mandela, conhecer o inimigo não era apenas uma tática, mas um ato de empatia.

E quando você conquista seu inimigo, ele disse, nunca se vanglorie disso. Não os humilhe sob nenhuma circunstância. Deixe-os, na verdade, salvar as aparências. E então você terá transformado seu inimigo em seu amigo.

9 - Mantenha seus rivais por perto

Você pode confiar nos seus amigos, no sentido se que sabe que eles, grosso modo, irão apoiá-lo, e pode confiar em seus inimigos, no sentido se que supõe que eles sempre se oporão a você. Mas seus rivais amistosos são aqueles que você precisa não perder de vista.

Meticuloso, Mandela traçava os movimentos de seus rivais e dizia que precisamos nos esforçar mais para esperar o esperado, que com frequência não nos preparamos para o que sabemos ser provável acontecer.

O líder sul-africano sabia que não havia método infalível de antecipar os ataques dos seus rivais, mas acreditava que, ao manter um rival debaixo das suas asas, faria com que ele ao menos pensassem duas vezes. E então ficaria perto o suficiente para vê-lo se aproximar.

10 - Saiba quando dizer não

Mesmo que tenha um instinto quase sobrenatural para agradar, mesmo que odeie desapontar as pessoas, Nelson Mandela é totalmente adepto do dizer "não". Tendo passado tantos anos na prisão, onde tinha um poder limitado para influir nas situações, sabia que muitas delas se resolvem por si mesmas. Mas se você está demorando ou evitando dizer "não" porque é desagradável, melhor dizê-lo na hora e claramente. Você evitará problemas a longo prazo.

Mandela falou muitos grandes e resolutos "nãos" em sua vida política. Quando jovem, disse não à participação de comunistas na Liga da Juventude do CNA. Disse não para a ideia de esconder seus atos revolucionários, no Julgamento de Rivonia. Disse um gigantesco não ao presidente De Klerk quando julgou que ele estava tentando preservar a dominação branca no governo. Ao mesmo tempo, não dizia o "não" quando não tinha de dizer. Por que desperdiçar um "não" quando você não precisa dizê-lo? Por que ser rude quando não é preciso?

11 - É um jogo demorado

Quando jovem, Mandela era impaciente: queria a mudança para ontem. Vinte e sete anos na prisão o ensinaram a ir mais devagar e reforçaram seu sentimento de que a pressão com frequência leva ao erro e ao mau julgamento. Acima de tudo, aprendeu como adiar a gratificação.

Essa paciência com o longo prazo moldou até mesmo sua visão de felicidade. Certa vez, Stengel perguntou se ele era feliz. Após uma pausa, ele contou sobre a morte precoce do pai, sobre como a mãe morreu pensando que o filho era um prisioneiro e, quem sabe, um criminoso, sobre como suas filhas sofreram quando ele estava preso. E então citou uma resposta que um pensador grego deu a essa mesma pergunta: "Não considere nenhum homem feliz até que você conheça o fim dele". Mandela concordava. Tudo pode mudar no último capítulo, e você precisa permanecer no caminho para evitar que algo desagradável aconteça.

12 - O amor faz a diferença

Durante grande parte da vida de Mandela, o amor foi algo distante, existindo mais em sua imaginação e em sua memória que na realidade. E, quando era uma realidade, muitas vezes era uma fonte de dor em vez de conforto. A natureza da era do apartheid na África do Sul o impossibilitou de ter uma vida pública e uma vida privada simultaneamente. No entanto, nunca desistiu da ideia de que o amor estaria em sua vida. Durante toda a sua vida, no cálculo entre o amor e o dever, o dever quase sempre venceu. Há pouco espaço para o amor na vida de um revolucionário e de um prisioneiro. Mas Mandela nunca desistiu do amor, nem mesmo quando ele foi adiado ou estava inacessível.

13 - Desistir também é liderar

Em vários aspectos, o maior ato de liderança de Mandela foi a renúncia. Quando se tornou o primeiro presidente democraticamente eleito de uma África do Sul livre, é provável que, se desejasse, pudesse ter permanecido presidente perpétuo. Mas, em 1995, depois de apenas um ano de mandato, ele anunciou que não concorreria a um segundo. Mandela estava determinado a mostrar não somente que os africanos podiam governar a si mesmos, mas que a África podia ser um continente de democracias constitucionais.

Mandela sempre foi teimoso. Quando estrutura suas ideias, é duro mudá-lo. Mas muda, particularmente quando confrontado com a evidência de que, se não o fizer, isso terá consequências negativas. No momento em que muda de ideia, você nunca imagina que ele já tenha pensado de maneira diferente. Ele passa para o outro lado e o abraça com o zelo do recém-convertido. Mandela sabe que ceder pode ser uma espécie de vitória também - significa que você está passando para o lado vencedor.

14 - Sempre ambos

Nelson Mandela sabe que a consistência, por si só, é uma falsa virtude e que a inconsistência não é automaticamente uma falha. Sabe que os humanos são criaturas complexas e que as pessoas têm uma miríade de razões.

Durante uma entrevista, Stengel perguntou a ele: você abraçou a luta armada porque julgou que a não violência nunca derrotaria o apartheid ou porque era a única maneira de evitar que o CNA se estilhaçasse? Mandela o encarou e disse: "Richard, por que não ambos?". Para Mandela, a resposta quase sempre é "ambos". Ele sabe que a razão por trás de qualquer ação raramente é clara. Não há explicações simples para as perguntas difíceis.

Gradações de cinza não são fáceis de articular. Preto e branco é mais sedutor porque é simples e absoluto. Por causa disso, muita pessoas escolhem um categórico "sim" ou "não" porque pensam que isso parece mais forte. Mas se cultivarmos o hábito de considerar ambos - ou mesmo vários - os lados de uma questão, como Mandela fazia, de manter o bom e o mau em nossas mentes, podemos ver soluções que de outra forma não nos ocorreriam.

15 - Encontre sua própria horta

Mesmo na prisão, em uma remota ilha, Mandela precisava de um lugar à parte. Um lugar onde pudesse se perder para se encontrar. Então, no começo da década de 1970, em meio a angústias como a morte do seu filho mais velho num acidente de carro, Mandela decidiu plantar uma horta. Ele precisou passar por vários processos burocráticos, envias diversos pedidos de autorização, enfrentar a desconfiança das autoridades, mas no fim, conseguiu cultivar sua horta. Na Ilha Robben, ela tinha se tornado sua ilha particular. Acalmava sua mente. Distraía-o das preocupações constantes sobre o mundo exterior, sua família e a lita pela liberdade. Não era um lugar de retiro, mas de renovação.

O escritor inglês Samuel Johnson disse certa vez que não há nada mais relaxante do que se concentrar em uma tarefa agradável que ocupe a mente, mas que não a sobrecarregue muito. Para Mandela, era a horta. Para o resto de nós pode ser algo inteiramente diferente. O principal é que cada um de nós precisa de algo alheio ao mundo que nos dê prazer e satisfação, um lugar à parte.